Na onda da Ayahuasca
Ayahuasca, nome quíchua de origem inca, refere-se a uma bebida sacramental produzida a partir da decocção de duas plantas nativas da floresta amazônica: o cipó Banisteriopsis caapi e folhas do arbusto Psychotria viridis. É também conhecida por yagé, caapi, nixi honi xuma, hoasca, vegetal, Santo Daime, kahi, natema, pindé, dápa, mihi, vinho da alma, professor dos professores, pequena morte, entre outros. O nome mais conhecido, ayahuasca, significa "liana (cipó) dos espíritos". Utilizada pelos incas e também por pelo menos setenta e duas tribos indígenas diferentes da Amazônia. É empregada extensamente no Peru, Equador, Colômbia, Bolívia.
No Brasil faz parte do ritual de varias seitas.
Acreditando na possibilidade de que só se pode ser feliz pagando mico, fui a uma sessão ritualística que tem como pratica uma nova forma de beber a ayahuasca, santo daime ou o nome que se queira dar a bebida.
Um amigo trouxe de Brasília, da mística região do Vale do Amanhecer, uma seita nova, uma forma diferente de beber a infusão.
O ritual começou com a velha e ordeira fila para beber o chá, recebemos um copo cheio de uísque com quatro pedras de gelo feito de ayahuasca, ficamos todos de pé, esperando bater. Depois de uns quinze minutos de silencio profundo, quando a lombra estava começando a entrar, começou a tocar uma musica, uma espécie de mantra, baixo e suave e foi aumentado gradualmente.
A música era assim “ ado, ado, ado, cada um no seu quadrado...ado, ado, ado, cada um no seu quadrado”. Enquanto cantávamos, uma força estranha se apossou de todos nós e começamos uma dança ritualística parecida com o funk carioca, onde cada um devoto dava um passinho pra frente e um passinho pra trás e ia até o chão rebolando, sempre cantando o mantra “ado, ado, ado, cada um no seu quadrado”.
Meia hora depois eu estava me sentindo ridículo.
Foi então que bateu a viagem mística.
Sempre no fim, as coisas parecem ter a forma que sempre tiveram e que deveriam parecer ter sempre. Nos últimos dias do inverno febril a luz adquire o péssimo hábito de pousar em cima dos objetos ocultos libertando as abjeções, despertando a velha fome de viver. Essa mania de querer morrer mesmo amando a vida, essa eutanásia deliberadamente feliz, essa boca cheia de sede que me suga as noites quentes do mesmo velho e antigo verão úmido de grandes lábios suculentos, essa vontade de ver atrás da porta verde um deus que nem acredito existir, tudo isso me impulsiona para experiências próximas da canalhice, do charlatanismo.
Viver de verdade é perder o medo de ser ridículo, portanto, quando abri o olho novamente, lá estava eu atrás de uma bunda linda que pertencia a uma gatinha ambientalista estilo new hippie que trabalha em ONG, dançando e cantando...”ado, ado, ado, cada um no seu quadrado...ado, ado, ado, cada um no seu quadrado”.
Essa experiência mística mexeu profundamente comigo, acho que finalmente a porta verde se abriu, as coisas ficaram um pouco mais claras, algum significado para justificar a vida emergiu dentro de mim enquanto eu olhava para aquela bunda, dançando e cantando “ado, ado, ado, cada um no seu quadrado...ado, ado, ado, cada um no seu quadrado”.
Percebi que se fosse continuar nessa seita, não poderia ser um simples devoto, teria que ter um franchise para poder me auto proclamar mestre.
Mestres ficam sentados só olhando as bundas dançantes, uma posição privilegiada e mais adequada para um cara de quase cinqüenta anos como eu.
Esse lance de ficar rebolando até o chão, mesmo dopadão, deu uma piorada na minha lordose. Ainda bem que a garota da bunda linda tinha feito curso por correspondência de massagem tailandesa e está dando a maior força aqui em casa, cozinhando, lavando e passando a minha roupa e de vez em quando me dando uma sapecada, cantando “ado, ado, ado cada um no seu quadrado...”. Dei um tempo na Dalila, minha boneca inflável.
Tirando o grão de bico e o gergelim, estou comendo bem, graças a deus!
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