Ratoeira em um saco de maizena


Um amigo surtou trabalhando para o INPA (Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia).
Para quem vem do sudeste e outras regiões para a realidade amazônica é um choque e tanto.
E ficar longe da família e dos amigos é angustiante.
Não raro pesquisadores surtam por causa do stress do mestrado, doutorado e das intermináveis festas de embalo que rolam entre um campo e outro.
Esse amigo surtou feio e foi levado pelos amigos para o aeroporto para se recuperar perto da família.
Ele barbado vestido com bermuda estilo texano sujo entre mendigo e hippie.
Todos com cara suspeita demais para os padrões aceitáveis de quem vai embarcar em avião.
E ainda mais surtado com cara de quem estava drogado.
Ele senta no avião e uma moça senta do lado dele e começa a puxar assunto.
No final da viagem ela dá o número de telefone dela para ele ligar.
Ao sair do aeroporto em Brasília a mala dele saiu de uma esteira “diferente”, de acordo com ele.
No aeroporto tinham cinco camburões da PM.
Ele jura que eram para ele.
Mas não chegaram perto dele em nenhum momento.
Até hoje essa duvida cruel maltrata a mente.
Será que era paranóia minha?
Será que eu deixei de comer a gostosa do avião achando que era agente federal infiltrada.
Essa dúvida cruel sobre paranóia e realidade muita gente tem.
Melhor acreditar que não era paranóia.
Isso tudo porque ele estava barbado, é negro e trabalha em pesquisa na Amazônia e por isso tem um estilo mendigão.
Aconselhei ele para na próxima viagem, encher um saco plástico com maizena e por ratoeiras pelo meio.
Nem todo pesquisador da Amazônia é biopirata.
Nem todo negro, barbado e mal vestido é traficante ou terrorista.
Tomara que seja só paranóia mesmo.

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