Brincando com lobos


Humanos e lobos convivem juntos há 32 mil anos e isso nos afetou para sempre.
Os homens viraram lobos e lobos viraram humanos.
Nós aprendemos o que o lobo tinha de pior e viramos predadores implacáveis e os lobos se humanizaram virando cães leais, amistosos e confiáveis.
O meu finado cão da raça Beagle chamado Deprê veio morar comigo já adulto por ter sido abandonado por um humano canalha que simplesmente enjoou da cara dele e jogou na rua.
Umas amigas piedosas o trouxeram para mim sabendo meu amor por cão e por eu ter perdido recentemente o Tupã, um American Starfordshire, um cão muito forte, mas maior gente boa para caraleo.
Dei esse nome Deprê por causa da cara triste e assustada com que ele chegou na minha vida.
Parecia um emo.
O Deprê tinha epilepsia canina, uma novidade para mim. Para evitar os ataques ele tinha que tomar Gardenal, um remédio tarja preta só vendido com receita médica dada por médico de maluco.
Na Barelândia só tem um veterinário especializado em cachorro com problemas desse tipo.
Li no Google que epilepsia canina não mata, mas mata sim.
O Deprê morreu em um ataque epilético com convulsão. Bateu a cabeça por ter caído da escada durante o ataque.
Ele estava só como sempre esteve e eu quis apenas remediar essa solidão.
Acho que consegui.
Ele nem merecia mais o nome de Deprê.
Toda vez que ele me levava para passear, latia para os cães da rua como se fosse um verdadeiro Beagle marrento para chuchu.
Criar um cão melhora o ser humano.
Deixe que um cão lhe adote.
Você não precisa ser essa pessoa solitária.
E por favor tome banho para não passar pulgas para ele.

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