E chegou o natal... Disque!

Fazia um grande calor como é comum na Barelândia nessa época do ano.
Lá pelo fim de dezembro as chuvas e o calor se alternam transformando o céu amazônico em um imenso corredor de nuvens carregadas levadas pelo vento que espalha chuvas pelo Brasil varonil.
O transito pesado da cidade com seus carros reluzentes e preguiçosos levam os nossos caboquinhos que até ontem manobravam suas canoas.
E dirigem da mesma forma com que manobravam as canoas, ao sabor do desejo, da vontade e do remanso.
Nessa distração toda que o calor dá acelerando a bendita leseira baré, vi duas crianças maltrapilhas com jeito de que moram nas ruas catando mangas que caiam de uma imensa mangueira carregada de frutos.
Essa mangueira está há mais de cinquenta anos naquele lugar, antes mesmo de existir o condomínio de luxo construído recentemente.
Eu vi ela crescer.
Mangueiras são arvores imensas e que vivem muito mais que a maioria de nós.
Os garotos matavam sua fome comendo mangas caídas as vésperas do natal e essas mangas abundantes viram lama porque os moradores do condomínio não comem fruta do pé.
Imerso na leseira vi os seguranças do condomínio saírem das guaritas para expulsar as crianças, mesmo elas estando na rua publica pois a mangueira não sabe o que é condomínio, a mangueira se espalha.
No estado lisérgico da leseira baré e meio abobalhado com a cena de dois seguranças pobres sacaneando meninos pobres, desce uma senhora elegante de um carro de luxo moradora do condomínio e dá uma esculhambação nos seguranças defendendo as crianças.
Moral da história.
Pobre é uma merda!
Oh raça!

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