Bullying com tanajura


Tanajuras fazem parte das lembranças remotas atávicas da alma caboquinha.
Sempre quando chegam as chuvas lá pelas bandas de novembro, coincidindo com o Dia dos Finados elas aparecem aos bandos.
Enchem os quintais, os pátios, as calçadas, o asfalto e principalmente enchem as almas.
Minha mais remota infância volta toda vez com elas.
Todo mundo já foi criança.
Hitler, Einstein, Buda, Jesus e o Dori Carvalho, todo mundo já teve infância.
Todo mundo já foi criança.
E crianças são perversas.
A maldade da criança é algo terrível.
Criança não vale nada.
Lembro que pegávamos as tanajuras para comer a bunda gorda.
É uma delicia com farinha do uarini frita na frigideira.
Mas essa não era a maldade.
Matar para comer é da regra da natureza.
Alguém sempre vai comer alguém.
E um dia você vai também.
O sadismo infantil era pegar a tanajura, amarrar um barbante no rabo dela e na outra ponta amarrar um pedacinho de madeira.
Só pra ficar vendo ela se matar tentando voar e cair.
Aquilo era uma espécie de bullying cretino.
Sinceramente eu não me lembro de fazer isso.
Mas só em assistir e rir junto eu me sinto culpado até hoje.
Por isso quando elas aparecem no meu pátio a cada ano eu tento não pisar sobre elas.
Pisar nelas seria pisar na minha infância.

Comentários

Mulher Vã disse…
Primeiro quero dizer que adorei seu blog.

Segundo quero dizer que eu sentia um prazer de arrancar as bundas das tanajuras.
É, tem razão, criança não vale nada!!

Será que o Hitler também comeu uma bundinha?

Beijo

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