Só as flores de plástico não morrem

Viver é um exercício primitivo para a morte.
Tanto faz você ser um crente desalmado ou um ateu religioso, pouco importa.
Todo mundo vai parar em um belo buraco em um belo dia de sol.
Ou de chuva.
Só as flores de plástico não morrem.
Entender como funciona o mecanismo do corpo e da alma é o que menos importa porque não sabemos porra nenhuma sobre quase tudo.
Entender como funciona não é entender. Entender como funciona é simples.
Embora nem tudo careça de tanta explicação.
Oferecer shorinkas para acalmar os espíritos é como a dança da chuva.
É como a religião ascenstral dos índios.
Tudo é tudo e nada é nada.
As flores ficam lindas embaixo de um cruzeiro que é um aparelho de tortura romano.
As flores existem antes da cruz que mata.
A cruz é uma invenção da cabeça doentia e sádica do homem.
As flores não.
Vi no cemitério alguns túmulos com flores de plástico.
Fiquei imaginado o tamanho da preguiça do cidadão que põe flores de plástico na sepultura de alguém.
E pensando que a preguiça é algo que na eternidade você vai poder exercitar a vontade.
Durante a vida é melhor estar acordado.
Só pra ver o sol levantar e morrer, sentir o vento bater e a chuva chover.
E que os mortos fiquem mortos e os vivos vivos.

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