A melancolia das chuvas manauaras deixa a gente emo


A gente que mora bem, que é esquema classe C para cima, fica melancólico quando começam as chuvas na Amazônia.
O ano começa com as chuvas caindo, atravessando o carnaval e se estendendo até abril.
A ressaca pós-carnavalesca apanha a gente dentro da quaresma, junto com as chuvas intermináveis.
Dá um bode preto parecendo coisa de emo ou melancolia inglesa.
É ótimo para reflexões sobre a vida, sobre os amores e sobre as dividas.
Isso se você morar dentro de um condomínio que não corre o risco de alagar nem de cair com as chuvas torrenciais e diluvianas.
Os paraísos artificiais que disfarçam a favela que Manaus se transformou, nos protege das mazelas de quem não tem essa sorte.
Nas chuvas é que se mostra a força das coisas, a força da natureza, a força da desigualdade social, os tumores e os ratos dos esgotos dessa cidade peixe.
Que luta desesperadamente para deixar de sê-lo.
Ser barezinho é ter obrigação de ter amor e compaixão por Manaus, uma cidade cosmopolita que sofre por ser isso.
Cosmopolitana.
Com seus índios, caboclos, judeus, árabes, libaneses, sírios, turcos, nordestinos e paulistas em um caldeirão mameluco que tem a vantagem de ser novo.
Mas sem lastro referencial.
Agora vamos ter um bairro de haitianos negros lindos falando francês.
Antes tinham as prostitutas polacas do centro na antiga Manaus belle époque.
O futuro é nosso e é cosmopolita.
O que pode atrapalhar é essa corja que está no poder há anos.
Mas tudo passa nessa vida.
Até uva passa.

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