A elegância discreta da barezinha model

Acordei de uma noite feliz em que tomei todas as brejas com meu amorzinho e uma amiga na tranquilidade do lar ouvindo as canções que curto sem ser importunado por bêbados felizes.
Bêbado feliz só eu nessa porra.
Sai para ir no mercadinho do Japonês ladrão comprar umas coisinhas aproveitando a manhã azul da Barelândia que as vezes é blues.
Pus meu óculos escuro “Tou nem ai” e meu headphone JBL de altíssima qualidade sonora e rodei no celular Fox Lady do Jimi Hendrix gravado ao vivo no estúdio da BBC de Londres nos idos de 1969. Eu tinha 8 anos à época, mas hoje entendo tudinho.
Pelas ruas os carros passavam por mim reluzentes com seus vidros fechados e escuros e seu ar-condicionado ligado, e eu cantando Fox Lady aos berros enquanto caminhava pelas calçadas esburacadas dessa Barelândia sem calçadas.
Com esse espirito meio que roqueinrol comecei a catar nas prateleiras do Japonês ladrão as mercadorias do cotidiano. Quando estava me dirigindo ao caixa senti uma fisgada no pé da barriga sinalizando que tinha charuto pendurado na beira do beiço. Lembrei que na pressa feliz tomei uma xícara de café com leite e esqueci de arriar o barro. Toda vez que bebo leite tenho que estar a dois metros de algum vaso sanitário.
Entrei na fila do caixa com esse espirito de porco querendo desovar.
Fiquei pensando amenidades tipo olhando para o céu azul e perguntando “Será que vai chover?” na inútil tentativa de enganar minhas tripas.
A fila andou e cheguei ao caixa e nessa hora, sem aviso algum e sem controle, soltei um peido sem querer. Daqueles melados carregados de dióxido de cachaça misturada com tira-gostos deliciosos das noites cheias de brejas.
O óculos escuro ajuda a segurar a cara dura e assim o fiz. Mantive a fleuma, a elegância, a fineza, a delicadeza e agradeci a moça do caixa. Ela retribuiu com um sorriso amarelo no rosto meio envergonhado sem saber de onde vinha aquele cheiro fétido.
Olhei para a pessoa que estava atrás de mim na fila com uma certa piedade no coração, mas com cara de "Foi você?".
Não podia dar bandeira. Jamais!
Uma moça também de óculos escuro, elegante, fina, delicada, com cara de moradora dos condomínios caros do entorno do mercadinho do Japonês ladrão.
Não notei no rosto dela qualquer sintoma de ter cheirado um peido horroroso de pudim de cachaça.
Quanta elegância, meu deusio!

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