Um tupezão voador.
A paixão, uma típica demonstração de sentimento pequeno burguesa, a mais idiotizante das emoções baratas, quando entra causa estragos. O mais descolado, o mais esperto, o mais malandro dos homens, vira idiota. Ele fica com a falsa idéia que o céu existe e que ele está nele. E também que o inferno ronda sua porta, mas não importa, o inferno existe, mas vale a pena queimar nesse fogo. Quem está fora não entende nada, dada a demência estampada no sorriso bôbo, no cantarolar sem sentido dentro de ônibus lotado, pagando cervejas pra todos nos botecos, gargalhando quando seu time perde.
Fazer amor numa esteira indígena que sulista adora chamar de tupezão deixando os joelhos todo ralado, nada importa. O apaixonado está perdido, irremediavelmente perdido. Ele já não cabe em lugar algum, nem nele. A referência é o que menos interessa. Dane-se o eu.
Cair desse tapete voador é que dói, e muito. Quando não se conhece o caminho pro sol, o navegar entre estrelas, o paraíso, fica mais fácil levar tombos. Porém, depois de ter acessado as delícias de olhar alguém, fazendo amor sentindo o chão se abrir e ter a sensação de estar voando no melhor dos céus, desembarcar desse sonho é como cair no meio do poço do abandono, no colo da solidão mais escrota possível. E não adianta nadar contra a corrente que te arrasta pra cachoeira, você vai cair mesmo.
Porém tudo isso não serve de desculpa para ofensas, sentimentos ruins de traição, mesquinharias e seqüelas comuns aos fins, tipo despeito, raiva, rancor. Gostaria de ser superior a isso, passar por essas dores de perda sem levar o gosto amargo do fim, ou sensação de perda. Tudo é o que é. E se for amor vai ficar, mesmo não sendo a dois.
Talvez eu nem queira que você leia isso ou que considere o fato que todas as coisas ter alguma explicação, no fundo. Todas as coisas estão valendo desde o inicio, nada volta e nada escapa do fim, nem eu, nem você, nem o que se possa chamar de nós.
Isso é pra pedir perdão por palavras ditas no pior momento onde o inverso do amor tira o juízo do metido a esperto. Mas também pode deixar quieto, pois quieto está bem.
Essa crônica é publicada em jornais e também no blog http://cronicabipolar.blogspot.com/
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