Do cócix até o pescoço


Com o passar dos anos, as pessoas são inexoravelmente invadidas por todos os tipos de angústias, culpas, medos e ansiedades. Culpa judaico cristã por ter pensando um dia em comer a própria irmã gostosa que dava pra rua toda, culpa mulçumana por ter comido ou dado pra rua toda, culpa budista por não ter comido carne mijada e ter ficado no rabanete por ser vegetariano, culpa por ser um socialista cansado que acreditou no grão mestre Arnaldo Jabour que apregoa não mais existir nem direita nem esquerda e sim um mundo que chuta com as duas o boga dos outros, culpa por ser um capitalista selvagem radical de centro direita que odeia o Lula e tem como bíblia a vestal das verdades, a Revista Veja ( Ooooohhh revistinha... ) e ser assíduo telespectador do Jornal Nacional com suas verdades mutáveis, culpa por ter enchido de porrada a própria boneca inflável, companheira de tantas noites insones, e a pior de todas as culpas, não ir ao médico fazer os exames necessários que a idade avançada pede, depois de tantos anos sendo invadido por tsunamis diários de cerveja, cigarro e drogas menos licitas. Só de pensar em fazer exame de toque para detectar possível problema de próstata, tem caboco que dá xilique. O meu amigo Simão Pessoa, por exemplo, declarou que prefere mil vezes o câncer. Eu também.
Aprisionado por esse oceano de medo, culpa, ansiedade e angustia lacaniana, o ser humano avança no tempo, abrigando entre o cócix e o pescoço, uma enorme quantidade de lombrigas convivendo harmonicamente. E por medo de fazer exames médicos, para não detectar possíveis danos irreparáveis na estrutura, depois de anos de abusos, prefere acreditar que a dor que sente pelas corrosões e beliscadas na parede do intestino provocada por amebas, seja um câncer irreversível, uma punição por ter comido ou dado pra tanta gente ou coisa. E que aquela dor na boca do boga seguida de sangramento, provocada por oxiúrus, seja um tremendo câncer terminal.
Como diz o caboco, filho de pobre come o que dá e o que recebe também, mingau quente a gente vai soprando e comendo pela beira, lombriga, medo e anus todo mundo tem e quem não tem chifre é porque algum paraense roubou.
Nesses tempos bicudos onde adquire-se atestado de sanidade mental no bar do Armando, o lance é ir andando com o toba colado na parede, lendo um letreiro com néon e tudo, piscando, dizendo “Eu não comi ninguém, mas também ninguém me comeu”.

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