O vendedor de galinha cafetão

Morar na Barelândia chuvosa, quente e úmida tem seu charme provinciano e barroco nas suas manhãs languidas cheias de carros buzinando nas ruas sem noção.
Morar no Parque 10, um bairro que há cinquenta anos era uma selva, e que hoje virou passagem para outros bairros, é como morar em uma ponte onde a gente como a gente, provinciano para chuchu, só fica espiando as presepadas, que nem cachorro na popa da canoa, só de orelha em pé. Nem peidar, peida.
Toda manhã há mais ou menos uns trinta anos, passa pela rua um carro de som de um vendedor de galinha caipira. Toda manhã eu ouço o mesmo anuncio que não mudou uma virgula durante três décadas.
E olha que nesse intervalo eu já morei em tanta casa e em tanta cidade que nem me lembro mais.
Hoje de manhã embaixo de uma chuva torrencial nesses dezembros barés, me passa novamente o carro do vendedor de galinha caipira. Só em ouvir o som eu volto no tempo, nos idos dos anos 80.
O carro de som do vendedor de galinha caipira está virando uma memória atávica, isso quer dizer que funciona a porra do comercial dele.
“Galinha bem tratada, galinha gostosa, galinha apertadinha, galinha cheirosa, galinha baratinha, leve a sua agora, freguês!”
Pô, se eu fosse um cafetão de beira de calçada iria usar esse mesmo jingle.
Né não?

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