Meninos que brincam com bonecas


Apesar de acreditar cegamente no que dizem as igrejas evangélicas apocalípticas dos santos dos últimos dias, nos cientistas ambientalistas fundamentalistas e sua teoria do caos e até no que diz meu intestino quando eu bebo leite, não acreditei quando o Correio veio entregar minha boneca inflável nova. Logo eu, uma pessoa crédula, que acredita em tudo, desde políticos em época eleitoral, em mulher e em Papai Noel, duvidei que fosse verdade. Enfim, minha boneca inflável ultimo tipo chegou. Embora empenada por conta do calor dentro da embalagem, culpa do aquecimento global.
Tudo na vida é substituível, é reciclável, e na pós modernidade, tudo o que demorar por mais de duas horas é velho, antiquado, ultrapassado. Na lógica da pós modernidade o intervalo de duração entre o que é novo, moderno, atual, e o que é antigo, velho, ultrapassado, é muito curto. Em um piscar de olhos você dorme Angelina Jolie e acorda Hebe Camargo. Tudo é ligeiro, apressado, instantâneo que nem leite e expresso que nem café.
Gosto de me pensar uma pessoa conservadora, que acredita em certos valores, como família, tradição, propriedade, e em bens confiáveis, tais como a durabilidade dos cosméticos, da necesset, da polchete e do lap top. Portanto não foi por influência do comportamento contemporâneo pós moderno que tomei a decisão de trocar de companheira, e sim porque a minha antiga parceira estava desgastada, esgarçada, estropiada e toda cheia de buracos de cigarro depois de tantos anos de uso. Uma lástima. Aquele ar de indiferença típico de nova-iorquino, aquela boca eternamente aberta (estou falando da boneca inflável), me levavam a loucura. Toda vez que eu acabava de dar uma sapecada nela e perguntava à clássica “Você gozou?” e vê-la silenciosa com a boca escancarada e olhar blasé, isso me irritava profundamente.
Essa boneca nova é diferente. Ela tem vida própria, personalidade, caráter e está inserida na consciência ambientalista politicamente correta do mundo pós moderno. Ela é toda feita de silicone reciclável, retirado das bundas e peitos de travestis e peruas mortas que doaram seus órgãos em um gesto final de consciência neo ambiental. Ela é toda ajustável, não é uma desajustada como as ultimas namoradas que tive. Se quiser eu posso aumentar o peito e diminuir a xota ou vice-versa, ela fala coisas que eu gosto de ouvir, ou não. Se quiser posso até programá-la para mentir, como toda mulher, e falar que tenho pau grande, que sou gostoso e algo mais.
No próximo workshop sobre meio ambiente que eu for, em algum balneário charmoso, longe da pobreza e mais perto do glamour que esses eventos são cercados, vou levar minha boneca nova para apresentá-la para a sociedade cientifica. Como esses encontros geralmente são perto da orla marítima, vou testar mais uma qualidade da minha bonequinha. Diz no folheto do site de venda on-line que ela vira sofá cama e serve de salva vidas. Isso para o caso de não ter cama nos hotéis, ou para o caso de que alguma profecia sobre o fim do mundo apregoado pelos ambientalistas se concretizem. Afinal perto do mar pode ser que venha algum tsunami gigante. Para esperar que algo de novo aconteça no reino dos workshops ambientalistas, vou bebendo tsunamis de cerveja mesmo, na excelente companhia da minha nova namorada hi-tech. Nunca se sabe, né não?!

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